Kiyoshi Yamamoto por Tomoo Handa

Natural de Tóquio, em 1892, Kiyoshi Yamamoto é o nome de um prêmio outorgado anualmente pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social aos agricultores, pesquisadores e entidades que se destacaram no desenvolvimento da agricultura brasileira.

Entretanto, numa rápida busca pelo Google e encontramos um outro Kiyoshi Yamamoto, um artista plástico internacional radicado na Noruega, e curiosamente nascido no Brasil, em 1983.

O Kiyoshi Yamamoto que estamos falando é muito ligado à agricultura brasileira. Ele perdeu o pai muito cedo, e também o padrasto. Por isso, embora vindo de uma boa família, passou dificuldades na adolescência. Sem meios para frequentar uma boa escola, estudava em bibliotecas, e foi recompensado quando foi aprovado no curso de Agronomia da Universidade de Tokyo. Naquela época, só os mais ricos podiam estudar. Devido as boas notas que obteve no curso, foi convidado pelo dono da empresa Mitsubishi, Hisaya Iwasaki, a trabalhar na Fazenda Koiwai, que criava cavalos de raça, gado leiteiro e ovelhas. Algum tempo depois, foi-lhe confiada a tarefa de desenvolver a cultura do algodão na China. Kiyoshi trabalhou na China por sete anos, e por isso, ele falava fluentemente o mandarim.

Em 1925, Iwasaki confiou-lhe mais um desafio: comandar um projeto agrícola no Brasil. Kiyoshi deixou a esposa e os filhos no Japão e veio sozinho. Procurou propriedades para adquirir na região de Campinas e encontrou a Fazenda Ponte Alta, mais tarde rebatizada de Fazenda Monte d’Este (uma tradução literal de Tozan, o braço agrícola da Mitsubishi). Aprendendo rapidamente o idioma, Yamamoto logo fez amizade com os grandes nomes da sociedade brasileira, e o apoio de entidades como o Instituto Agronômico de Campinas. A fazenda original, como em outras existentes no Estado, era coberta de cafezais, afinal, a riqueza paulista girava em torno do café. Kiyoshi tinha uma grande visão e vislumbrava uma realidade bem maior para o Brasil dentro da agricultura.

Para a supresa dos vizinhos, os troncos de árvores das áreas que foram desmatadas foram levados para a serraria e viraram tábuas e vigas para construção. No local desmatado foram plantados eucaliptos para reflorestamento, numa época em que ninguém falava sobre isso. Ele também introduziu a rotação de culturas, algo desconhecido no Brasil, mas praticado no Japão. Por exemplo, onde havia plantação de algodão, surge uma plantação de batata, ou seja, é uma forma de aproveitar melhor os nutrientes do solo que cada cultura precisa e também para se evitar doenças e pragas, que certamente se multiplicam na repetição de culturas. Além das madeiras, a Fazenda Tozan também fazia os tijolos e telhas que ela precisava utilizando a argila das margens do Rio Atibaia.

Num surto da broca do café, que ameaçava destruir plantações inteiras das fazendas, ele resolveu introduzir a vespa de Uganda, que ele descobriu através de estudos. A vespa combateu as brocas e não precisou usar nenhum tipo de inceticida, salvando as fazendas do Estado de São Paulo. Essa pesquisa, descrita com detalhes minuciosos, rendeu-lhe o título de Doutor em Ciências Agronômicas da Universidade de Tokyo.

A importância da Fazenda Tozan é que ela funcionou como uma estação experimental, onde os imigrantes japoneses podiam contar com a orientação baseada em anos de pesquisas e experimentos. Todos os males que se abatiam na agricultura paulista passavam pela fazenda, onde Yamamoto e seus companheiros tentavam encontrar uma solução prática.

Em 1958, Yamamoto fundou a ABETA – Associação Brasileira de Estudos Técnicos da Agricultura, e no mesmo ano, passou a receber técnicos de nível médio e superior recém-formados do Japão para serem treinados na Fazenda Tozan. Os estagiários permaneciam por 18 meses e depois seguiam para trabalhar nas cooperativas e empresas prestando assistência aos produtores rurais.

Kiyoshi Yamamoto gostava de esportes. Curiosamente, a primeira modalidade introduzida na fazenda foi o futebol. Muito popular entre os colonos que trabalhavam na fazenda, o futebol ganhou um campo com medidas oficiais dentro da propriedade. Mais tarde, a bocha, bilhar, pingue-pongue e até tênis foram introduzidos. Depois da guerra, uma boa piscina foi construída para a prática da natação. Aqui, os famosos “peixes-voadores”, entre eles os campeões japoneses Furuhashi e Hashizume, se apresentaram na ocasião da visita ao Brasil, em 1949. Os “peixes-voadores” ainda hoje são lembrados no Brasil, graças à ligação com o primeiro medalhista olímpico brasileiro da natação, o saudoso Tetsuo Okamoto.

Em 1955, foi um dos fundadores da Associação Paulista de Cultura Japonesa, que daria origem à atual Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, da qual foi seu primeiro presidente, ocupando o posto até perto do seu falecimento, ocorrido em julho de 1963, vítima de câncer pulmonar.

Antes, para as comemorações do 4º Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, o município montou uma comissão comemorativa, tendo como presidente o poeta Guilherme de Almeida, por sorte, admirador da cultura japonesa, principalmente do haikai (poemas curtos). A comemoração, que incluia a inauguração do próprio Parque do Ibirapuera, contou com vários estandes e pavilhões representativos de 19 países. A comunidade nipo-brasileira se empenhou em erguer um pavilhão característico para o Japão no Parque do Ibirapuera, tendo à frente da subcomissão do Japão lideranças como de Kiyoshi Yamamoto. Graças ao seu prestígio, foi possível conseguir ajuda do governo japonês e também das lideranças da coletividade. Yamamoto trouxe todo o material do Japão para erguer a Casa Japonesa, uma réplica do Palácio Katsura de Quioto, com jardim e tanque de carpas. Terminada a comemoração, como o local era muito visitado pela população, a prefeitura deciciu manter o Pavilhão Japonês, que conta até hoje com uma exposição de vários objetos de arte antiga japonesa.

A comissão organizadora do 4º Centenário, findo o evento, entendeu que deveria-se manter os bons laços criados entre os dois povos nos preparativos do 4º Centenário, o que deu origem à Aliança Cultural Brasil-Japão, em 1956, sendo os documentos de fundação assinados no próprio Pavilhão. Guilherme de Almeida foi o primeiro presidente da Aliança ocupando o posto até 1959, quando foi substituido por Kiyoshi Yamamoto.

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